Por Gerson Moraes em dezembro 16, 2022

É sempre um grande prazer exercer o discipulado e poder ver Cristo sendo formado na vida do novo discípulo. A pregação do evangelho não é um fim em si mesmo, mas o começo de uma longa caminhada no trilho do discipulado até que o discípulo esteja pronto para ser enviado e fazer discípulos de todas as nações.

O pregador que não consegue ir além do púlpito, não aprendeu ainda o significado de sua missão: "ide e fazei discípulos...". Fazer discípulo é um trabalho meticuloso, que envolve tempo de qualidade com o discípulo, no ensino, na comunhão fraterna, no aconselhamento em todas as áreas de sua vida, e intercessão.

Fazer discípulos dá muito trabalho e pouco status, deve ser por isso que muitos pregadores não conseguem ir além do púlpito, pois não querem gastar muito tempo com aquilo que dá pouca visibilidade ao que estão fazendo. Mas, o prazer de apascentar, cuidar e enviar só tem quem vive o exercício do discipulado constantemente no seu ministério.

Toda igreja precisa de um discipulado sério e maduro, que tenha começo, meio e fim, objetivando levar cada novo convertido a se tornar um discípulo maduro e frutífero no reino de Deus, um discípulo fazedor de discípulos.

Todo cristão que já tem anos de fé e que vive choramingando atenção e cuidado, na verdade, foi criado em um ambiente desprovido de um discipulado sério e objetivo, ou nunca quis se submeter a esse discipulado, por isso não aprendeu que, há um momento em nossas vidas que precisamos cuidar mais do que ser cuidados, dar mais do que só receber, estar crucificado antes de ser exaltado, trabalhar mais pelo reino ao invés de ser inútil no reino.

Quem aprendeu a ser um discípulo sabe, que não é um título que nos faz ser úteis no reino, mas o discipulado em si se encarrega de nos fazer descobrir qual a nossa vocação em Cristo e o nosso dom ministerial, que nos faz exercê-lo naturalmente e cotidianamente antes mesmos de sermos reconhecidos numa assembleia geral para recebimento de um título. A titularidade é o reconhecimento público do dom que opera em nossas vidas no dia a dia da nossa vida como discípulos no reino de Deus. E mesmo que nunca sejamos reconhecidos por um título diante dos homens, jamais passaremos imperceptíveis diante de Deus, pois os dons são dados por ele para nós e são irrevogáveis, simplesmente prestaremos contas do seu uso, diante dele e não dos homens, no tribunal de Cristo: "Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal." (2 Co 5.10). Mas uma coisa é certa, você nunca estará pronto para exercer algum dom ministerial, sem que antes passe pela escola de discípulos de Jesus para aprender aos seus pés: "aprendei de mim que sou manso e humilde de coração..." - Mt 11.29.

O discipulado nos ensina que ser é mais importante do que o fazer ou ter um título. Fazer ou ter um título nem sempre revela o que você de fato é, mas ser sempre vai resultar no fazer e vai revelar sua verdadeira identidade. Há milhares de apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres que estão exercendo seus ministérios no seu dia a dia, junto a suas igrejas locais, naturalmente e responsavelmente sem titularidade reconhecida pelos homens, mas reconhecida pela eternidade. Existem milhares de cristãos que já entenderam que seu campo missionário é todo lugar aonde Deus o tem feito ir e estar para implantar o reino de Deus no coração das pessoas,  a começar em seus próprios lares, pois a nossa casa é o nosso primeiro ministério e nosso primeiro campo missionário. A Bíblia diz que Noé, cumprindo o chamado de Deus, construiu uma arca para a sua Salvação e de toda a sua casa. A salvação das futuras gerações dependia da salvação da casa de Noé; Deus estava preservando a casa de Noé para que o plano de redenção da raça humana fosse consumado no futuro, e isso dependeu da atuação de Noé a partir do cuidado em salvar sua família por meio da missão que ele recebeu do Senhor. Se cada cristão entendesse que sua missão em pregar o evangelho começa a partir do seu lar, do discipulado doméstico, acredito que cada família bem discipulada seria uma agência do céu na terra trabalhando na salvação da nação. Cada pai e cada mãe são pessoas levantadas por Deus no núcleo mais concêntrico da sociedade - a família - a fim de alcançar toda a nação e as gerações futuras.

Quando você passa pelo discipulado de Jesus você aprende que você tem uma vocação celestial e dons dados por Deus para ser o guia das futuras gerações a partir de seu lar. O nosso ministério começa em nossa casa, servir ao reino a partir de nossa casa é o começo de nosso ministério, e o que vai acontecer depois depende do que aconteceu antes. Por esta razão o discipulado tem essa característica familiar, de amor, cuidado, comunhão, ensino, condução, etc. Paulo usa a expressão "dores de parto" em Gálatasl 4.19, para se referir ao discipulado, pois para que Cristo seja formado no íntimo de cada discípulo existe um tempo a ser gasto e trabalhado, como numa gestação, até Cristo ser formado nas entranhas espirituais do discípulo e ele esteja pronto então para gerar filhos para Deus: "Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós;".

Um dos sinais mais claros da eficácia do discipulado na vida de um cristão é quando o discípulo começa gerar filhos espirituais para Deus, este é o sinal de que os dons do ministério da igreja está operando na vida daquele cristão. Os dons são dados a igreja para o exercício de sua missão como tal, como corpo, e cada cristão precisa exercer sua vocação no corpo operando por meio dos dons que foram dados ao corpo, logo, é no discipulado que o cristão passa a compreender isso e passa a identificar o seu dom e a se tornar funcional no corpo. No corpo não existe cargo, mas função, e não existe nada em um corpo que não tenha uma função, uma finalidade para o perfeito funcionamento do corpo. O discipulado é importante para fazer com que cada cristão entenda isso e se torne funcional no corpo, contribuindo para a saúde espiritual do corpo e seu crescimento.

Enfim, o discipulado é indispensável para a vida de um cristão e consequentemente para a vida da igreja como um todo, pois os resultados de um discipulado eficaz irá repercutir na qualidade de vida da igreja e no avanço do reino de Deus no mundo, na vida das pessoas.